Homesickness... conhece a "doença" de quem mora longe?!

Voando de encontro ao sonho
Belo dia você acorda bem e sai de casa disposto a ter um dia maravilhoso. Mas, daqui a pouco você começa sentir seu corpo pesado, dor de cabeça, percebe que está com febre, tosse... é gripe! Não há o que fazer, você fica mal e tem que esperar passar. Dois, três, quatro dias, nunca se sabe. Não adianta lamentar, é uma doença que te pegou! Alguns remédios aliviam os sintomas, um cházinho te faz sentir melhor, mas a gripe só vai te deixar quando completar seu ciclo.

Algo muito semelhante e tão indesejado quanto uma gripe também pode (e, provavelmente, vai) acontecer quando você embarcar em um intercâmbio. Você está empolgado, feliz e cheio de expectativas, mas basta desembargar em terras estrangeiras para uma tal "doença" te pegar. Não é gripe, não é resfriado, não é conjuntivite... é a tal homesickness! Talvez você nunca tenha ouvido falar ou, ainda, você até ouviu falar, mas nunca se interessou pelo assunto. Afinal, você sempre pensa: "Imagina, eu estou tão ansioso pelo meu intercâmbio, quero tanto curtir tudo que eu puder, vai passar tão rápido, que sequer vou ter tempo para sentir saudade".

Eu pensava assim. Passei tantos anos desejando fazer um intercâmbio, me preparei para todo tipo de coisa, como comida estranha e gente falando e eu não entendendo, mas não me preparei para o impacto da distância, para estar a nove mil quilômetros de distância de casa, distância que vai durar quase um ano - sem pais, família, namorado, cachorros, sem minha rua, minha casa...

Mas como é isso? O que vou sentir? Ela provoca em você uma enorme saudade, uma enorme vontade de sair correndo para o aeroporto e pegar o primeiro vôo de volta. Nós temos uma ideia formada de que saudade depende de tempo: quanto mais tempo longe, mais saudade vou sentir; se estou a pouco tempo longe, ainda não deu tempo de sentir falta. A homesickness faz com que 12 horas longe de casa pareçam doze anos. Dá vontade de chorar quando vê, ouve ou pensa em qualquer pessoa ou coisa que você ama, dá arrependimento e desgosto... Não parece tão estranho quando o seu maior sonho se transforma num pesadelo? Sim, é muito estranho, mas tudo isso acontece devido a um choque cultural.

Distância: 9 mil km
O choque cultural é quando você entra dentro de uma cultura que não é sua e começa a viver tanta coisa diferente ao mesmo tempo. Seu inconsciente, tão acostumado com os estímulos de um ambiente no qual você viveu toda sua vida, não entende o que está acontecendo. Tudo é diferente... a arquitetura não é mais a mesma da sua cidade, você tem que dormir em uma cama diferente, com pessoas estranhas ao redor, comer coisas que você já viu um dia, mas de um jeito totalmente estranho, você tem que se esforçar 100% do tempo para falar uma língua que não flui naturalmente de sua boca nem de sua mente (e muitas vezes sua fluência não é suficiente para expressar algo), você se depara com comportamentos estranhos aos seus... Seu cérebro entra em colapso! Tudo isso se soma ao simples fato que você não tem por perto nada daquilo que te pertence - física e emocionalmente -, o que te provoca um vazio, uma solidão imensa.

Meu primeiro erro em terras estrangeiras foi o fato de que eu não liguei para minha família quando aportei por aqui. Eu avisei por uma mensagem no WhatsApp, lá no aeroporto de Londres, que eu tinha pousado bem e estava esperando minha mala. Quando eu cheguei na cidade e na casa onde eu iria morar, já era noite, as meninas mais velhas da casa foram dormir e eu não tinha a senha da internet. Eu não tive como me conectar e também não sabia se existia um telefone público por perto (pois não conhecia nem um centímetro do lugar que estava), meu celular não pegava, enfim, me restou deitar, dormir e esperar o outro dia... Me senti uma filha desnaturada e fiquei mega depressiva por causa disso. Acho que isso me fez ficar muito mal, irrecuperável pelos próximos dias... Parece piada, mas é sério, planeje bem sua comunicação com a família antes de ir, converse antes com pessoas que já estão no local para te ajudar a saber como agir.

Esse misto de sentimentos fizeram meus primeiros dias fora do Brasil serem realmente terríveis... É difícil confessar isso, a gente sempre tem um certo orgulho (risos), só quer contar coisa boa e dizer que está tudo bem! Mas a verdade é que eu sentia uma tristeza profunda, dolorida e incomparável com qualquer coisa que já senti! Fiquei preocupada comigo mesma muitas vezes, pois muitas vezes eu chorava sem nem saber o porque. Estava no meio de um monte de gente e meus olhos me traíam e começavam encher de lágrimas. Achei muitas vezes que não ía aguentar... Eu só pensava que eu queria ir pra casa, mas ao mesmo tempo eu ficava a todo momento me lembrando de como foi para chegar ali: o meu sonho, todo o sacrifício, tudo que gastei, as coisas que pretendia fazer, o que eu queria aprender e vivenciar... Pensava ainda em quanto seria bom para mim em muitos aspectos - a começar pelo treino da língua e por muitas outras razões.

Ponte para um mundo novo
ps: apesar dos olhos inchados, garanto que
não é cara de choro, é cara de cansaço da viagem
de mais de 14 horas e do impacto com o
fuso-horário de quatro horas de diferença
Eu tentava descobrir se as pessoas também passavam ou passaram por isso, mas parecia que só eu estava vivendo esse "mal". Outros que chegaram antes de mim me disseram que passaram o mesmo. Procurei conversar pela internet com amigos que também estavam ou um dia estiveram fora de casa, em diferentes países e cidades, e todos me diziam para ter calma, que era normal e que logo passava. Dessa maneira, assim como qualquer doencinha chata, tive que esperar passar. Chorei por longos dias a fio... até que comecei a lidar com tudo e ficar cada dia mais confiante. É assim que funciona, determinado dia você já não tem mais a mesma vontade de chorar e as coisas vão ficando melhores.

Pesquisando um pouco a respeito da homesickness eu entendi que todos que fazem intercâmbio ou vão morar fora, um dia ou outro vão passar por isso, seja no começo, no meio ou no fim do período. Temos alguns diferentes períodos: a "lua-de-mel", aquele tempo em que você fica deslumbrado, apaixonado pelo novo; o "entusiasmo", qundo você começa a realmente se empolgar e querer viver ali para sempre; o "desapontamento", quando você começa ficar decepcionado com a maneira como as coisas funcionam, como as pessoas se comportam; e a literal "homesickness", quando tudo o que você quer é voltar para sua casa, sente saudade até das coisas ruins do seu país.

As etapas não tem uma ordem correta para acontecer. Às vezes você vai estar em lua-de-mel primeiro, depois vai se desapontar, então vai se empolgar e depois sentir saudade de casa... Às vezes você vai sentir saudade primeiro, se empolgar depois, então entrar em lua-de-mel e só depois começar a se desapontar. Às vezes você não vai viver todas as etapas, apenas algumas. Às vezes vai passar por algumas mais de uma vez...

Para aliviar a saudade, tente fazer coisas que te deixem bem e não te façam ficar pior. Por exemplo, ver fotos de casa me faz mal, então, não abro álbuns antigos. Por outro lado, falar com a minha família recarrega minha bateria, então, Skype todo santo dia. Na primeira semana fora eu me permiti comer qualquer coisa que eu desejasse, na quantidade que eu quisesse, dormi sempre que tinha vontade, me permiti conversar horas e horas na internet. Se quiser chorar, numa boa, chore, lave a alma. Se quiser conversar com alguém, converse (e quando estiver bem, seja receptivo e ajude os outros que vierem depois... você vai entender o valor disso!). Ore... já ouviu falar no ditado "ora que melhora"? Pois é, tem melhor companhia que a do Espírito Santo?

O importante é que você tenha sempre em mente o que te tirou de seu país, quanto te custou sair de casa e como você vai estar quando terminar seu intercâmbio. É necessário durante os planos pré-viagem ter metas claras e objetivos. Se é falar inglês (ou qualquer outra língua), se esforce para aprender inglês, gaste tempo estudando pra valer, leia livros na nova língua, assista filmes, ouça música, provoque as pessoas a conversar e treinar o idioma. Se é viajar, aproveite cada segundo, tire fotos e guarde lembranças para depois ter o que contar; se é viver uma nova cultura, não desperdice tempo com "coisas de brasileiros", mas tente provar cada nova experiência que aparecer em sua frente...

Enfim, aproveite a oportunidade, o seu momento. Não importa como nem onde, fazer um intercâmbio é para poucos e você é um provilegiado! Assim como em uma gripe, não há remédio que cure a homesickness, mas há soluções que aliviam os sintomas, "cházinhos" que confortam, e uma hora todo desconforto vai passar. E lembre-se: se esforce para pensar sempre naquilo que te motiva e não desista!

|| Ps: estou fora de casa há 37 dias, em um intercâmbio pela Inglaterra, para estudar inglês e passear pela Europa...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Firme estou, com as mãos aos céus...

Empreendedorismo: nossos sonhos são do tamanho que os enxergamos

Processo de obtenção do visto de voluntário na Inglaterra - Reino Unido