MINHA HISTÓRIA: SOBRE QUANDO MOREI FORA DO BRASIL

A história é longa, mas resume anos de sonho, muitas cotações e tentativas...

Intercâmbio! Eu sempre me imaginei de alguma forma viajando e passeando pelo mundo. Mas acho que me despertei para a ideia de morar fora em 2009. Eu vi a palavra intercâmbio estar relacionada a mim de alguma forma quando fui pela primeira vez para a Semana Estado de Jornalismo, em agosto de 2009. Quem ganhasse o Prêmio Jovem Jornalista, atrelado à participação naquela Semana, ganharia um intercâmbio de seis meses na Espanha, com bolsa de estudos na Universidad de Navarra e todas as despesas pagas.

Eu fui uma das finalistas e então comecei sonhar e visualizar: eu, ganhadora, indo para a Espanha, treinar o espanhol que eu tanto amava e tinha estudado por um bom tempo alguns anos antes. Mas... Eu não fui a feliz ganhadora. Ergui a cabeça e determinei que não mataria meu sonho: algum dia, de alguma forma, eu iria para a Europa, para a Espanha! Desde então vivi sempre com esse ideia, sem muito alarde, mas também sem ter ideia por onde começar. Eu não queria pausar a faculdade, também não imaginava de onde tirar dinheiro para isso...

Não me lembro exatamente quando, eu, que ouvia muito os CDs da Hillsong, resolvi procurar de onde a banda era. Descobri serem da Austrália, pesquisei mais sobre o país e me apaixonei. Desde 2006 eu fazia aulas de inglês e passei momentos bem "tensos" no curso por conta de dificuldades de concentração nas aulas e de evolução no aprendizado, mas eu amava muito a língua e sonhava ser fluente. Em um instante liguei todas as coisas: o intercâmbio, a Hillsong Church, praticar e aprender inglês. Feito, eu queria ir para a Austrália! Passei a alimentar meu novo sonho, porém, adiei o planejamento para quando a faculdade acabasse...

Quando terminei a faculdade, no começo de 2011, eu comecei pesquisar. "Austrália, aí vou eu", pensava. Quando? Como? Não fazia nem ideia! Pesquisei em algumas agências, tudo muito caro. Tentava achar alguém que morava lá e pudesse me abrigar por um tempo, procurei projetos como do Rotary (nesse caso, me sujeitando até mesmo a mudar de ideia quanto ao país). Cogitei até mesmo  fazer Ywam Austrália (Jocum), mas o valor seria o mesmo de viajar por agência e eu não tinha esse valor. Parece que nada dava certo e o tempo foi passando, acabou 2011.

Aconteceu também que em 2011 eu tentei entrar para o Curso Abril de Jornalismo. Fui finalista, me chamaram para entrevista. Diante disso, eu não me importava tanto em pensar em ir para fora do país. Eu acreditava que iria para SP, que iria trabalhar na Editora Abril, e diante dessa perspectiva até pensava em desistir do intercâmbio, caso eu realmente conseguisse o curso e depois o emprego tão almejado. Por sinal, essa foi a maior de minhas frustrações, pois mais uma vez não consegui. 

O pensamento no intercâmbio voltou, então bem mais forte. Eu desejava de toda maneira ter o dinheiro para embarcar para a Austrália em janeiro de 2012 e esquecer toda aquela frustração, aquele sentimento de ser a maior das perdedoras. Voltei a cotar e pediam pelo menos 18 mil para passar quatro meses na Austrália. Ainda impossível. Mesmo percebendo que eu andava adiando a minha vida à espera do intercâmbio, para então tentar crescer de alguma forma na vida, na profissão, continuei com a ideia fixa de viver fora.

Passei a orar, sentei e esperei.  Entreguei tudo nas mãos de Deus, dizendo: "Pai, faz em mim tua vontade e se for tua vontade realizar meu sonho, me mostra um caminho". E descansei, parei de pensar, de pesquisar, mas não de sonhar. Esperava de alguma forma "cair do céu" uma oportunidade, aparecer uma luz. Continuava trabalhando para guardar dinheiro e com o sonho adormecido, à espera de “um milagre”.

Minhas maiores "viagens" aconteceram por meio dos livros e às vezes por filmes. Sempre li muito e dessa maneira fui "conhecendo" lugares e personagens interessantes. Dentre os lugares mais marcantes sempre haviam cidades europeias. A bela Itália de Comer, Rezar e Amar, com lugares como a diversa Roma, a romântica Veneza e a gastronômica Nápoles. A graciosa Paris Iluminada, na França, e as emocionantes touradas espanholas, de Navarro, conhecidas no livro Casados com Paris.Os filmes também me traziam sonhos: Meia Noite em Paris e seu romance modernista, que assim como Casados com Paris trazia personagens envolventes e um cenário moderno. As misteriosas ruas londrinas de Sherlock Holmes.

Tenho ainda em minha bagagem as festas temáticas de colônias europeias e o quanto já mergulhei nessas culturas: o Einsbein e as danças alemãs, os tamancos e as danças holandesas e o belíssimo Fado e a gastronomia portuguesa "bacalhau e azeite". A Liverpool dos Beatles - e os vídeos que o Bastelli fazia quando ia para lá. Bem, posso dizer que minha mente era povoada quase que constantemente pela ideia de visitar alguns desses lugares. Aquela coisa de ler, ver, ouvir e dizer: um dia vou estar lá!

E aí, foi no primeiro trimestre de 2012 que me peguei pensando na Europa como destino de intercâmbio. Um amigo contou que iria morar na Irlanda. Ele argumentou que gostava de lugar com história, com tradição, por isso fugiria da agitação novaiorquina. Na hora só falei do meu plano, a Austrália. Mas eu sou assim como ele também. Os EUA nunca fizeram parte do meu imaginário para morar. Mas a história do intercâmbio irlandês me fez refletir. Pensei em toda minha fascinação pelas cidades europeias e a certo momento, não sei exatamente quando, me caiu a ficha: que raios quero eu fazer na Austrália???

O país da Oceania me parece ser lindo e exótico, de clima muito parecido com o do Brasil. Sonho um dia passar por lá, ver cangurus, coalas e praias lindas. Me aprofundando mais e ouvindo relatos de intercambistas, percebo que a Austrália é um lugar de muita agitação e badalação, atividades ao ar livre e prática esportiva. Não que eu não goste disso tudo, mas me peguei a refletir se eu realmente queria morar do outro lado do mundo, 13 horas à frente, pagar o dobro no preço das passagens, passar quase dois dias dentro do avião. Minha conclusão foi que, talvez no futuro, eu possa tirar um mês de férias e fazer tudo isso. E que, então, morar na Europa seria muito mais vantajoso para mim. Eu teria a oportunidade de visitar outros países, conhecer culturas e voltar recheada de histórias e sensações. Ver belas praias é um prazer indizível, mas tenho experimentado isso em toda a costa brasileira, com destaque para o Nordeste (lugar para o qual ainda tenho muitos planos de ir). 

A maturidade dos anos de sonho e trabalho duro atrás do intercâmbio me trouxe a decisão. Queria crescimento, aprendizado, amadurecimento e também aproveitar essa oportunidade para realizar outros sonhos e me encher de cultura e história. E assim, eu decidi: vou para a Inglaterra! Continuei com minha oração e nesse tempo todo só me firmei mais em Deus. Um dia, entrei no Face e um amigo paulistano falava na minha timeline que ia morar fora. Perguntei para onde e ele contou: Inglaterra. Uau! Pensei. Como será que ele vai fazer? Perguntei em uma mensagem particular e ele me respondeu que iria como voluntário em um hotel protestante, em uma cidade a 140 km de Londres. Na minha cabeça, à época cheia de “pré-conceitos” ser voluntário era morar em lugares precários e ajudar gente carente. 

Certo dia, me peguei pensando novamente em como ir para a Inglaterra e então sentei na frente do PC para ver o link. Como quero treinar bem meu inglês desde já, não me permiti traduzir uma única palavra, fui lendo tudo em inglês e assimilando o projeto. A palavra que me vinha à cabeça era work hard e eu me imaginava de camareira, arrumando cama e lavando banheiro. Puro preconceito ou mesmo insegurança.

Passei alguns dias assimilando a possibilidade e sinto que foi aí que Deus falou ao meu coração a respeito disso. Senti que aquela era a minha oportunidade, a chance que Deus estava me dando. Pensei bem e por que não encarar o desafio de por algum tempo trabalhar com o que fosse – limpeza, cozinha ou arrumação? Eu aprenderia a fazer esse serviço, quando voltasse iria amar muito mais minha profissão, estaria pronta para encarar o serviço doméstico e todos as outras lições que a vida traria. Seria um grande tempo de crescimento pessoal e individual – por aprender a viver sozinha e me virar, conhecer pessoas e melhorar o inglês. E ainda, diante da proposta do projeto de voluntários de Ashburnham, seria um bom tempo com Deus – eu e Ele!

Por fim, coloquei na balança o quesito financeiro. Para ir, eu gastaria apenas o valor da passagem, lá, em troca do meu trabalho voluntário, eu teria moradia, alimentação, alguma ajuda com transporte para compras e estações e uma graninha semanal pra sobrevivência básica. Pensei muito a respeito e Deus foi me falando ao coração que era aquela a oportunidade que Ele me deu. Quando eu iria conseguir um intercâmbio assim? Com casa, comida e a garantia de “trabalho” (entre aspas pois como já foi dito se trataria de um voluntariado e eles me sustentariam como instituição de caridade) no período? E com a oportunidade de fazer tudo dentro de uma instituição cristã e comprometida com princípios e valores sérios, tendo a oportunidade de buscar mais a Deus e não me afastar dEle nesse período de ausência do Brasil?

Oscilei algumas vezes, mas em certo momento coloquei em meu coração que iria e comecei a amadurecer a ideia. Um dos momentos em que refleti a sério sobre o assunto foi conversando com uma amiga. Avaliamos as circunstâncias e percebemos que só haviam prós. Os contras no fim seriam benéficos também. Para me "aplicar" a uma vaga, eu precisava preencher um formulário, um teste de inglês, um certificado médico atestando minha saúde física e mental e precisava que meu pastor e meu líder preenchessem formulários de indicação, falando a respeito de minhas características e qualidades. E ainda, eu precisava ter um passaporte. Comecei por aí... (Que vergonha, eu não tinha um!) Dei entrada online e logo marquei a minha ida à Polícia Federal .

Foi bem rápido, em menos de um mês eu estava com o documento em mãos. O tempo todo pensei: "é a mão de Deus agindo". Preenchi todos os formulários para me aplicar. Orei antes, orei durante, orei depois de enviar.

Minha ideia inicial eram de seis meses fora. Mas em Ashburnham Place, o lugar para o qual eu estava pedindo uma vaga, a permanência de brasileiros era liberada para de nove meses a um ano. Entendi que assim era a vontade de Deus, que esse era o tempo que ele reservou para mim. Me candidatei para nove meses. 

Eu enviei meu application na madrugada do dia 2 de setembro. Em 11 de setembro Ashburnham me respondeu agradecendo, informando que seria tudo encaminhado a uma comissão e para eu orar pela decisão, assim como eles também fariam. O resultado me seria comunicado num prazo de três a cinco semanas. Entreguei nas mãos do Senhor e descansei. A resposta veio realmente em cinco semanas, que eu teria a vaga exatamente para o período que pedi ou mesmo mais, no total de um ano.

Antes mesmo de me candidatar e mesmo antes de partir, eu me aconselhei várias vezes com uma ex-voluntária e com meu amigo que tinha vindo antes de mim. Ouvi muitas coisas e aprendi muito sobre o lugar, com prós e contras, eu ainda sabia que não tinha lugar melhor para estar, senão o lugar que Deus preparou para mim. Do dia da resposta ao dia da ida foram quase nove meses, o que me gerou muita ansiedade. Grandes mudanças na minha vida nesse período, a perda de um emprego e o começo em um novodo tipo “emprego-dos-sonhos”, fortalecimento do namoro, projetos correndo me fizeram ter dúvidas e até sofrer quando a ideia de partir se aproximou.

Mas esse era o sonho tomando forma e se realizando... Eu não podia estar mais feliz! A paz de Cristo não poderia mais tranquilidade em relação à minha vida e futuro. Se tudo que fiz foi pelas Mãos do Senhor, não podia ser errado ou ruim.

E assim, em 26 de junho de 2013 eu parti para a viagem mais doida e diferente da minha vida. Com duas malas de porão e uma de mão fui eu rumo à Europa, Reino Unido, Inglaterra, Ashburnham Place. Ao encontro da AshLife... Enfrentei essa nova vida, que a princípio muito me assustou, me trouxe lágrimas de saudade, de desespero, culpa da tal da homesickness, que algumas vezes me decepcionou, mas que me trouxe momentos inesquecíveis, viagens incríveis, mudanças, crescimento, amadurecimento...

Quando fui à Inglaterra, infelizmente eu não fiz desse blog um diário. Devia ter feito. Mas ele contem fragmentos da minha aventura. E tenho muita história para contar, que um dia vai virar conteúdo ou apenas páginas importantes da minha vida. Viver fora me trouxe muitas experiências, me levou a conhecer muitas pessoas e entender muito mais de meu próprio mundo.

Mais do que uma intercambista, ser voluntária me fez ser mais do que a média. Trabalhei por uma causa, sorri e chorei, fui serva, fui cativada por um mundo maravilhoso, do qual sinto falta todos os dias da minha vida. Não sei como eu seria se um dia não tivesse botado os pés para fora da minha casa e vivido! Pra sempre terei esse coração meio a meio, dividido e espalhado por tantas nações para onde cada um de meus amigos e suas belas histórias os conduziram. Me sentir realizada é um dos maiores trunfos que carrego dessa jornada, que teve prazo de duração, mas seus efeitos vão viver em mim para a vida toda!

Obrigada Senhor, eu não conheço os Teus planos, mas em Ti eu confio!

Se quiser fazer perguntas sobre Ashburnham Place, voluntariado etc, pode me adcionar no Facebook ou mandar email para roxaneregly@gmail.com

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