Eu entro em PÂNICO

* Texto publicado no jornalistas.blog.br, com alguma edição e cortes.
** Versão na íntegra, sem revisão.


Assistir TV é um programa muitas vezes interessante e na maioria delas divertido. Há quem diga que não gosta de TV, mas tenho a certeza que ainda assim acompanha ao menos um programa ao longo da semana, isso se não diariamente.

A crítica ataca quase sempre a grade de programação dos canais, mas mesmo sendo poucos e nem sempre bons, podemos encontrar de tudo neles. Do jornalismo sério, filmes de todos os gêneros, programas de esporte, música, entretenimento, culinária, artesanato, às mais terríveis e inimagináveis baboseiras produzidas pelo ser humano.

Ultimamente, ando indignada com os níveis a que tem chegado o “Pânico na TV”. Conhecido pela sua futilidade e humor barato, ainda assim, é inevitável reconhecer que é um programa de sucesso. Dei uma busca no Orkut por comunidades relacionadas ao programa, que ocupada um dos horários privilegiados da TV – domingos das 20h45 às 23h e reprise às sextas, às 22h15 – e a comunidade “oficial” tem mais de 603 mil usuários.

O programa já caminha para seu sexto aniversário, os apresentadores e personagens tiveram seus contratos recentemente renovados, com um salário de R$ 15 a 35 mil cada, isso sem contar que a Rede TV já teve propostas, mas não aceita vende-los a outra emissora.

Lembro-me há bons anos atrás, quando começou o “fenômeno Pânico”, eu estudava à noite, chegava de van mais de 23 horas em casa e não tinha como ver a reprise, já que aos domingos, no horário da transmissão ao vivo, eu nunca estava em casa.

Mas o que mais se ouvia falar era do tal do pânico, com suas piadinhas e trocadilhos que logo caiam na “boca do povo”. Comecei a me empenhar em ver pelo menos uma parte da reprise e no fundo, achava graça de algumas coisas.

Logo, o programa passou a ser cada vez mais apelativo. Mulheres com lingeries minúsculas e saltos altos, lideradas por Sabrina Sato – japonesa, ex-bbb, fazendo o tipo de “loira burra” – corriam pelas ruas em “matérias” sem conteúdo e que só exploravam a sensualidade feminina em troca de ibope. Então, desisti de acompanhar o tal programa.

As mudanças continuaram e o pânico incutiu na sociedade, em sua maioria jovem, manias, hábitos e bobagens. Parei para recordar algumas e no fundo fiquei impressionada com o quanto de coisas idiotas que inventaram e muita gente seguiu.

“Eu vô, num vô” estigmatizava mulheres bonitas e feias. “Pedala Robinho” rendeu bons tapas, isso sem contar que acompanhado do “Escreve Grafite” começou a saga dos “anões” usados no programa para fazer humor.

A “Dança do Siri” era o fervor do momento. Ninguém perdia um “capítulo” da campanha “dança Galvão” ou “dança Silvio” e não podia ver um coitado dum repórter para começar imitar os personagens Vesgo e Silvio.

O quadro que foi um dos auges da trupe, as “Sandálias da Humildade” viraram sensação. Quem seria o próximo? Clodovil vestiria ou não? Lá veio o “Homem Berinjela”, o “Homem Aranha Gay”, e mais um anãozinho.

Usar das diferenças das pessoas, da humildade, pobreza e “feiúra” é algo corriqueiro em seus quadros. Os mais atuais ainda estão na boca do povo, como “Ronaldo”, do torcedor corintiano Zina.

As imagens de um senhor simples e com ausência de alguns dentes, repetem incansavelmente “Ô Adriano, você ta me ouvindo... Olha, é uma banana!”. Ou de outro, também simples, dizendo “Cadê o chinelo” em uma praia.

Falando em praia, o pior de todos os quadros pejorativos é o “Musa da Beleza Interior”. Mulheres, muitas vezes senhoras, se exibindo, sendo exaltados seus “defeitos” e características fora do padrão da sociedade e falando coisas sem cabimento a fim de serem escolhidas a musa. A exploração da aparência das pessoas e do seu linguajar é cruel e maldosa.

Mulher Samambaia trouxe ao palco uma série de mulheres que passam mais de duas horas de programa rebolando sem sair do lugar, tendo bumbuns, seios e coxas focados pelas câmeras a todo instante.

Sabrina fazendo “peitinho” até em Hugh Jackman, Chrstina Pior, com o quadro “Meda” e a mania de dizer “bate... a foto!”, “José Toalha” com aquela brincadeira de terrível mal gosto.

Nos últimos tempos voltei a assistir Pânico na TV após assistir junto a uma amiga alguns vídeos no Youtube do “Momento Amy Whinehouse”. Satirizando a cantora, que vira e mexe se mete em encrenca, um homem vestido de “Amy” quebrava tudo o que via pela frente pelas ruas. Era engraçado, fútil, porém engraçado.

Hoje em Dia, os quadros do Pânico estão voltando a ganhar níveis extremos de apelação. “Pânico Delivery” leva bêbados para casa. São homens vomitando, falando bobagem tirando a roupa e dando em cima das mulheres – Bolina e Piu Piu – que andam sempre semi-vestidas. “O Destruidor”, que em homens vestidos de personagens de vídeo game destroem um carro, dispensa qualquer comentário.

Mais atualmente, criaram um tal de Mário Broz, imitando o personagem dos games, que permeou a infância da grande maioria que assiste hoje ao programa. Ao fim do quadro, “Mário” sempre acaba tragicamente assassinado, com um falso sangue lhe escorrendo pelos olhos, ouvidos, nariz ou boca, seguido de uma advertência sobre as estatísticas de latrocínios no país.

Mas o que me motivou a escrever este texto é a aversão que tenho do quadro “5 Maneiras, com Marcos Chiesa (o Bola)”. A cada semana, cinco maneiras de realizar alguma coisa são apresentadas. No entanto, o objetivo não é dar dicas, é ser baixo, nojento e fútil. O Bola é submetido a situações em que faz nojeiras, se machuca, sangra, berra a todo momento palavrões – levemente abafados com o conhecido “piii” e mostra a todo tempo partes íntimas.

É o quadro mais repugnante de todos. São situações como usar um ventilador com um aparelho de barbear afixado para “fazer a barba”, saltar sem roupa em uma cama elástica cheia de tachinhas ou andar sobre cacos de vidro. Tudo ao fim acaba em sangue e palavrões. Por último, Bola tatuou a imagem de seu produtor na cabeça. Extremo mal gosto.

Assim como todas as manias e gestos criados pelo Pânico foram seguidos por praticamente todos os jovens do Brasil, não acredito que advertências de “esse quadro é feito por profissionais” vão impedir adolescentes de saírem por aí imitando as idiotisse que esses quadros fazem. Além de ser de mal gosto e repugnante, esse quadros são um péssimo exemplo e nada colaboram na formação do jovem.

Talvez seja por isso que a sociedade vá de mal a pior e que ao invés de falarmos de políticas públicas para melhorar a qualidade do ensino e consequentemente a de vida também das crianças e adolescentes, falamos das estatísticas de quantos deles VÃO morrer até 2012.

Onde está o incentivo à leitura, à cultura e ao desenvolvimento social? Infelizmente, venho dessa geração que tem por opção programas fúteis, vazios e irresponsáveis. Que nada acrescentam, e pior que isso, consomem tempo e criam raízes na sociedade.

E se eu contar que na mesma busca no Orkut por comunidades do programa encontrei uma, com mais de 100 mil usuários, com o nome “Pânico na TV salva o meu domingo”. E existem 22 iguais a ela.

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