A Dedicatória

Eu tenho no meu quarto uma parte de minha estante dedicada a livros que ainda não terminei de ler ou que ainda pretendo ler. Aqueles que um dia comecei e parei, aqueles que ganhei no aniversário passado ou em alguma ocasião específica e não consegui me dedicar a ele ainda. Às vezes paro diante dela e me pego prometendo fazer uma "operação tira atraso". Mas eles continuam lá, talvez por falta de tempo, talvez por não serem tão interessantes. Alguns emprestados e precisando ser devolvidos, outros antigos e amarelados, outros novinhos em folha, querendo ser devorados.

Entretanto, dia desses, mesmo com tantos exemplares à minha espera, senti saudade de um antigo, mas muito querido livro de histórias, guardado lá na sessão dos "já lidos". Sou um tanto apegada à maior parte dos livros que ganhei ou comprei, por isso os guardo com zelo. Vez em quando os revejo, folheio. Ainda mais os que de alguma forma são especiais. "Histórias para o Coração" é um desses e é por ele que eu busquei.

Ganhei este livro em meu aniversário de 13 anos. Foi um pedido. À porta de minha adolescência, com sonhos e planos somente para um futuro tão distante, mas como sempre apaixonada pela literatura, queria saber que livro e suas palavras me indicariam alguém sábio, então pedi: pastor, no meu aniversário o senhor me dá um livro de presente?

Quanta audácia minha. O pastor de minha igreja certamente tinha muitas outras "ovelhas" e seria compreensível que não presenteasse nenhuma em específico por razões óbvias. Mas o pastor Sila Rabello, um dos homens que marcou com presença e sabedoria o início de minha vida cristã, esteve em minha casa naquele dia 19 de abril de 2002, de embrulho em mãos.

Meus aniversários quando criança-adolescente eram assim: dia de comemorar aniversário eu ia logo para casa, recebia bisavós, avós, tios, primos e alguns amigos para cantarmos parabéns e tirar fotos na mesa da sala de jantar, em volta do bolo que minha mãe encomendava na padaria ao lado de casa.

Em frente à estante de velhos livros encontrei então as histórias para o coração, escolhidas e reunidas por Alice Gray. O abri com carinho e encontrei a dedicatória.

Roxane,
Pequenas histórias,
grandes lições
Para que você possa
ser uma grande escritora.
Parabéns!
19.04.02
Pr. Sila Rabello"

Quando li pela primeira vez aquela dedicatória, praticamente dez anos atrás, achei beleza e sinceridade nas palavras. Mas eu era jovem para pensar em concretizar aquilo, jamais podia pressupor como seria meu futuro. Uma escritora? Era um tanto irreal me imaginar escrevendo algo além dos meus diários e redações escolares. Ser jornalista era um sonho, escritora quem sabe.

Ao abrir o livro e rever essas palavras, emocionei-me repassando mentalmente o caminho que trilhei nesses últimos dez anos. Ainda não sou uma grande, mas podemos dizer que me tornei uma escritora (que palavras abençoadas aquelas, sobre mim, ainda menina). Pensei em meu livro, nas reportagens que escrevo todos os dias e, como não, sou sim uma escritora, oras. Uma escritora de fatos e não de ficção, de artigos, às vezes crônicas, sim, uma escritora. Fiquei feliz por lembrar que nos agradecimentos do meu livro-reportagem lá está ele: "Ao pastor Sila Rabello, com tamanha capacidade e inteligência me ajudou exatamente como eu precisava".

(Essa ajuda foi decisiva em meu livro, quando eu queria um diferencial, algo que falasse do cuidado de Deus com a natureza a ele escrevi, por e-mail, pedindo a indicação de um simples versículo. Sila cuidadosamente escolheu e separou um livro de seu acervo, embrulhou-o em um plástico, escreveu com caneta azul a destinatária e o remetente e saiu de Piracicaba rumo a Limeira para deixar a embalagem em meu portão - já que naquele horário nenhum de nós estava em casa para recebê-lo, o acolher, oferecer uma água, um café e nossa gratidão pelo gesto)

Como prometi - quando contei a respeito da aprovação na banca e a graduação em Jornalismo, também por e-mail - quero vê-lo em breve. Devolver o livro emprestado, mostrar o meu e matar saudades. A dedicatória aumentou a vontade por esse encontro. Já falei disso algumas vezes aqui em casa. Estamos a combinar. Agradeço mais uma vez pela dedicatória e mais que isso, a confiança depositada em mim quando eu ainda era uma menina. Palavras curtas, mas com grande significado. Como as histórias, que pequenas, me deram grandes lições.

A dedicatória

Comentários

  1. Milton Jr7:48 PM BRT

    oi rooo bem bacana seu blog! parabéns!

    Te amo! bjo

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