O carnaval do desgosto

Limeira chega ao final de semana de carnaval tomada por um desgosto que assola a população. O gosto amargo que sentem os cidadãos tem relação com os fatos que se desenrolaram principalmente na última terça-feira.

A semana começou com esperança, com uma operação do Ministério Público (MP) na Prefeitura de Limeira em busca de documentos para uma investigação a secretários, ex-secretários e assessores políticos do governo Félix (PDT). Um fôlego para a população.

O foco, entretanto, estava no dia seguinte, naquela noite em que seria apresentado o relatório da Comissão Processante (CP) que investiga o prefeito afastado Silvio Félix. Após meses de trabalho dos vereadores integrantes da comissão, cada cidadão aguardava ansioso o resultado da investigação.

Como jornalista, mas também como cidadã, eu esperava saber a verdade sobre o apurado durante os trabalhos e a conclusão do destino de Limeira. Quem esteve presente e ouviu com atenção a leitura do relatório pelo relator, Ronei Martins (PT), pode compreender perfeitamente o cenário que é alvo de investigação, não só da CP, como também do MP. Não se trata de um movimento de minoria organizada, tentando desmascarar um prefeito bem sucedido, com alta aprovação pelo povo, uma perseguição política. Trata-se de claras provas de crimes contra o dinheiro público.

O caminho para extirpar a vergonha instalada em nossa cidade é o pedido de cassação do mandato de Félix. A continuação do governo é insustentável em meio a tamanho escândalo. Fatos comprovados no relatório apresentado por Ronei. Todos acreditavam que Limeira enfim seria justiçada. Mas Nilce Segalla, vereadora integrante da CP, apresentou seu voto em separado, com um relatório diferenciado.

De coração aberto, procurei ouvir suas palavras. Acreditei que podia haver coerência no montante de páginas que a parlamentar ergueu como um troféu, em meio a risinhos de Piuí (PDT) e uma distração visível de Almir (PSDB). É duvidoso que Nilce seja a real autora do relatório. Ela justificou seu voto “com o coração” e alegou ter passado uma manhã (que não passou de uma única hora) debruçada sobre as sete mil folhas de material sigiloso que apontava as irregularidades.

A parlamentar gaguejou, errou palavras e não acertou a pronúncia de nomes diversos. Citações que em nada cabiam em todo o discurso esperado. Justificativas? Nenhuma. Da segunda fila da Câmara de Limeira, de frente com a vereadora, a indignação corroeu-me. Todos têm o direito de se manifestar em contrário a uma ideia, mas eu esperava que houvessem motivos justos e dignos para o vote em separado. Mas Nilce não apresentou nenhum. Nada que pudesse ao menos tentar livrar Félix das acusações.

Apenas falação, “blá-blá-blá”, como diziam os populares presentes. Um discurso filosófico, cheio de citações de filósofos, juristas, padres e até da Bíblia Sagrada. Algo sem sentido. Por sinal, a vereadora pulou pelo menos 30 páginas em sua leitura. Por que será? Uma demonstração que nada daquilo fazia sentido nem importância. Tentei de maneira sincera tirar algum proveito daquele texto, mas não encontrei nada que fizesse sentido.

Ultrajados, todos limeirenses, que em sua maioria acompanhavam de alguma forma a sessão, seja pela TV, rádio ou internet, ou mesmo ali, pessoalmente, todos foram estapeados em suas faces com a decisão final. Além de Nilce, Piuí e Almir escolheram o discurso insano como sua decisão por Limeira.

Protestos, gritos e choro. Nada comoveu os senhores vereadores. Nada os convenceu das duas horas e meia de leitura e argumentos de Ronei. Contrariaram toda uma população por razões pessoais, desconhecidas, uma vez que nenhum deles se manifestou à imprensa nos dias seguintes para justificar seus atos. Seguiram seus corações corrompidos.

Indignou-me ver um batalhão a blindar e escoltar os nobres parlamentares – que em companhia dos advogados da linha de frente, riam da população, zombavam e faziam gestos incoerentes com a postura de defensores do povo.

Eu não culpo nenhum eleitor. Todos certamente acreditaram nas promessas e na falsa postura de homem do povo, com reduto em bairro de periferia, comunidade religiosa ou atuante quando o assunto é a defesa da mulher, quando votaram. Mas este carnaval não será de folia, mas sim de ansiedade pelo próximo passo – a votação que definirá com a presença dos 14 vereadores o destino da cidade nos dias seguintes à quarta-feira de Cinzas.

Assim como muitos na cidade, cheguei a perder a esperança na possibilidade de ver a situação se reverter. Cheguei a acreditar que Limeira estava entregue ao lixo da corrupção, enfiada em um poço de lama, à espera apenas de uma nova eleição em outubro. Mas agora espero pela próxima quinta-feira para entregar minha confiança. Creio que ainda haja homens justos e capazes de fazer prevalecer a verdade.

Esperamos dos vereadores a postura legítimos fiscalizadores do executivo, imparciais e honestos. Que acima de legendas partidárias fique o interesse público e o bem da cidade. Que a quarta-feira de Cinzas seja também um momento de renascer a dignidade na Câmara e traga consciência aos senhores vereadores, que decidiram pelo futuro honrado de Limeira. Assim esperamos.

Bom carnaval!

As principais fotos  do Jornal de Limeira do episódio
da última terça-feira (clique na foto para ampliar)

Comentários

  1. Adorei o texto! Estaremos lá na quinta-feira e em qquer outro dia para exercemos nosso papel de cidadão. Limeira precisa mudar e estamos participando desse processo. Beijos

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